Poema do Deus cruel - Julio Cesar Gentil

Faixa de Gaza:
Palestina e Israel.
Óhhh, Deus cruel!
Relâmpagos, Tomahawk's...
Foguetes que caem do céu.
Óhhh, Deus cruel!
Mulheres que usam saia,
outras que usam véu.
Óhhh, Deus cruel!
Bodoques, atiradeiras, pedras...
Metralhadora Uzi-Israel.
Óhhh, Deus cruel!
A contradição das palavras,
o choro dos órfãos,
o lixo que fede na rua,
blindados por todos os lados,
a tristeza no olhar da viúva.
Êhhh, mundo cão:
quanto mais eu te chuto,
mais tu me abanas o rabo.

A imagem e o poema - Julio Cesar Gentil

Leitura de poesia:
a imagem é o leitor
quem cria.

Aos Olhos Negros (para uma paraguaia que eu conheci em Florianópolis) - Julio Cesar Gentil

Olhos negros e brilhantes,
olhos profundos.
Enormes, atentos, imensos...
Maiores que o mundo.
Olhos que tudo percebem,
olhos que percebem tudo:
desde a intenção mais óbvia,
até o incrível absurdo.
Olhos que escutam, que farejam,
que percebem a imensidão do mundo,
e bebem as suas mágoas
num gole profundo. 
Olhos negros que procuram
a essência da vida,
ainda que ela
esteja escondida.
Eu te digo, olhos negros,
livre de qualquer artifício:
apaixonar-se é fácil demais;
Amar é muito difícil.

Bukowski, Stravinski e Paulo Leminski - Julio Cesar Gentil

Entre Bukowski e Stravinski;
eu sou brasileiro, sou mestiço,
um virginiano inconformado...
Assim como o Paulo Leminski.

A Planta, a Gata, a Folha e o Vento... (para Solange Dias) - Julio Cesar Gentil

Eu gosto de plantas,
como tem vento
e uma gata cai da janela.
Estou quase sendo indiciada
por homicídio culposo.
Agora estou sem plantas,
na janela, o tempo passa...
A direção do vento é adversa,
mas continua a ventar.
As folhas se desprendem dos galhos
e perambulam pelas ruas da cidade,
as mesmas folhas.
Eu gosto da Nina Simone,
ela é a árvore da música, ou o vento.
A folha é a folha.
A Nina Simone é o sopro da música.
A folha solta ainda flutua pela cidade:
livre, leve e segura de qualquer tropeço.
A folha, a planta, a gata e o vento,
sabem que o fim também pode ser um começo.